Instalação colaborativa, intitulada In_versos, realizada por mim e outros 20 artistas convidados na Galeria Estreita (Curitiba, 2009), da qual também fui curadora.
A proposta surgiu da leitura do poema “Desfile” de Carlos Drummond de Andrade, que me havia tocado uma ferida recorrente: a vida como um ensaio para a morte:
(…)
Vinte anos ou pouco mais, tudo estará terminado.
O tempo fluiu sem dor.
O rosto no travesseiro, fecho os olhos, para ensaio.
O poema enquanto espaço: um corredor de palavras, a vida em linha reta, nada espetacular no fim. A Galeria Estreita, um corredor que eu atravessava todos os dias, um fluxo, um cheio (de atravessamentos) e não um vazio. O corredor e o fim, o poema e a morte. A morte como uma – talvez a única – coisa universal. Seria? Enviei o poema a vários artistas, em um email-provocação para que dali fizéssemos algo. Vinte artistas responderam à minha mensagem. Dividi o poema em 20 versos e a parede em 20 pedaços. A cada artista enviei um verso (baseando-me no que eu sabia de cada um) e “60cm de parede”, pedindo que cada um produzisse, de forma absolutamente livre, algo para ocupar aquele espaço. O resultado seria uma surpresa tanto para mim quanto para todos os outros artistas, que trabalhariam isoladamente.
Nesse fluxo, partíamos da palavra buscando a imagem, o que também poderia ser uma tentativa de fuga, um descolamento: os versos estariam dispostos ao longo da parede esquerda e as imagens sobre o lado oposto, obedecendo a sequência do poema. Uma coisa não seria equivalente à outra, mas dialética: textos e imagens, versos e paredes. As imagens possíveis no verso, no avesso da palavra. O espectador da exposição precisaria parar várias vezes, virar-se, absorver o texto para então o buscar/abandonar nas imagens, ou vice-versa.








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