as-100-importancias-de-nicole-lima

Em cartaz no Solar do Barão até dia 08/08, todos podemos conferir os resultados da Bolsa Produção 4, não só para checar o que está sendo feito do dinheiro público,  mas principalmente porque temos alguns trabalhos muito bons para serem vistos por lá.  E é sobre um deles que vou falar aqui: “100 importâncias” de Nicole Lima, figura conhecida na cidade por conta do Paralelo centro. Pois bem, aqui não me prezo a fazer crítica ou explicar o trabalho, só quero aproveitar pra falar um pouco da minha experiência com ele.

Quando entrei na sala já estava com expectativas de que veria um bom trabalho, isso porque já tinha lido algumas coisas (acho que é importante dizer que isso aconteceu na abertura), então já tinha algumas informações importantes, já sabia por exemplo de que ele era constituido por um painel de fotografias. Isso com certeza muda a minha experiência com a obra.

Logo na entrada dei de cara com cinco pedestais que traziam bloquinhos de papeis – disso eu não sabia. Neles no canto inferior esquerdo estava escrito “leve”. Foi o que eu fiz, arranquei todos. Com eles em mão vi algumas palavras do Manoel de Barros (retiradas de Memórias Inventadas: a segunda infância. ‘Sobre importâncias’). Foi o único que eu li na hora, e lá dizia

“Um fotógrafo-artista me disse outra vez: Veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós…”

E que coisa mais bonita isso. Depois disso já tinha entendido o sentido geral do trabalho. O restante dos papeis, lidos depois de ir embora só complementaram o que já tinha sido compreendido.

Mas Nicole mediu as importâncias dela, 100, e as organizou em um painel na parede, a partir de  uma linha imaginária, seu horizonte,  as separando em opostos que dividem as importâncias em desejos, infâncias, verdades, movimentos, horizontes, abismos, pausas, ignorâcias, mortes e medos .  Tudo é descrito através de fotografias, fotografias do seu arquivo pessoal, que dizem respeito as suas importâncias, no sentido individual mesmo. Já o número cem, segundo ela é um juízo de valor atribuído a vida, que com esperança seja vivida de 0 a 100.

Mas e aí, me pergunto, como isso, as importâncias da artista, chegam até mim, espectadora? Então retomo as palavras de Manoel de Barros “que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós…”. A montagem, as fotos, é tudo muito bonito, delicado e feito com carinho. Gosto de trabalhos que eu consigo enxergar isso. Trabalhos que partem da intimidade do artista normalmente fazem com que o espectador se identifique, e procure em si aquilo que vê. Eu pensei sobre as minhas importâncias, até mesmo fiz uma lista delas. Sem falar que pra mim, e alguns outros como Dubois, fotografias sempre falam de memória, tanto coletiva quanto individual, mais sobre isso escrevo em um outro post, porque tenho bastante coisa pra falar.

Como é um trabalho bastante pessoal, nem tudo o espectador acessa, como os barbantes coloridos inseridos em alguns lugares do painel – e isso a Nicole confirmou na mesa redonda alguns dias depois. Acho que quando o trabalho é bom a gente enxerga nele o que tem pra ser visto. É o caso das 100 importâncias, em que se vê  o que interessa, sendo assim algumas coisas podem ficar como interrogação.

Link para a materia: https://percevejo.wordpress.com/2010/06/21/as-100-importancias-de-nicole-lima/